A água da Amazônia, o petróleo da Guiana e Coreia, e o ferro de Simandou

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração e professor da Ufam



Difícil duvidar da frase “tudo passa”, famosa estampa epitelial de jogador de futebol. Bem como do epíteto “ciência triste”, dado à Economia, pelo peso de lidar com a escassez dos recursos quando tenta recomendar soluções de gerar riquezas. Estão entre as bases dos cuidados com os recursos naturais não renováveis. Quando se descobre aplicações interessantes a um recurso que não dispõe de um ciclo claro de renovação, e seu uso traz prosperidade, importante não esquecer da composição: Que triste, tudo passa.


Era nesse sentido que por décadas se falou da escassez de petróleo. Primeiro eram os choques com os árabes. Depois, a abertura financeira e comercial da China. Em 2007, com o petróleo a 150 dólares, se dizia óbvio que o petróleo estava por acabar. Alguns destacados se apressavam a declarar datas em que isso ocorreria. Em seguida o Brasil descobriu o pré-sal. Os Estados Unidos, a bacia permiana. A Guiana, a Margem Equatorial. Nos últimos meses a Coreia do Sul fez lá a sua grande descoberta, fazendo imaginar o quanto vai crescer aquele país em cenário de inédita abundância de recurso natural.


Talvez tenha alguma razão quem aponta a escassez como resolvível com o passar de gerações. A humanidade, sendo empreendedora por natureza, constantemente se põe a abrir fronteiras. Os recursos que aparentam escassos, se a demanda justificar, serão encontrados por novos meios, novas fontes. Ou terão encontrados seus substitutos. Mas a demanda, a necessidade humana, de alguma forma será satisfeita.


Quem entendeu isso aconselhou a explorar o pré-sal o mais rápido possível. É caso até de perguntar se ele não poderia ter sido descoberto antes, visto que a pesquisa de petróleo em mar no Brasil foi indevidamente postergada. Como fonte de receita, antes do petróleo o Brasil se apoiava bastante no minério de ferro. De vários estados, sendo o de Carajás o verdadeiramente inigualável para atender a siderurgia chinesa. Mineradoras anglo-saxãs, contudo, estão por desenvolver entre arborizadas serras da Guiné a mina de Simandou, com minério de ferro em quantidade e qualidade rivais da mina brasileira, e menos distante do principal mercado consumidor. Que triste, o recurso não era tão escasso assim.


Agora, a mudança climática surpreende tornando escasso um bem que nunca foi nomeado como tal: As águas da Amazônia. Enquanto recalcitramos a pesquisar este ativo em todas as dimensões, da hidrossedimentação aos aquíferos, desfaz-se o imaginário de termos a vantagem quando água ficasse escassa no resto do mundo. Que triste, não nos é mais tão abundante.


Nunca demos valor, nunca buscamos conhecer. Nas coxas e no afogadilho vamos tentar coletar e compreender as informações sobre as escassas águas. Havendo demanda, se vamos conseguir forjar esse ativo, encontrar novas formas de obtê-lo, ou encontrar um improvável substituto.


O antropólogo James Scott apontara como a humanidade se adaptou nos outros casos de mudanças climáticas. Na Mesopotâmia de há muitos milhares, foi o que direcionou os trânsitos de comportamento entre a caça-coleta, protoagricultura, agricultura irrigada e gestão de espécies, hoje acelerável com engenharia genética.


A passado distante faz questionar se os amazônidas das atuais estruturas e circunstâncias cumpriremos o que se espera da espécie humana em contexto de escassez. Ou vamos repetir as últimas engolições de mosca da economia brasileira, com o ferro e o petróleo. A oportunidade vai passar. Mas não precisa ser triste.