A realidade da mão-de-obra qualificada no PIM

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam


Nos últimos dias a Zona Franca de Manaus recebeu forte atenção na imprensa nacional. Dessa vez houve certo alvoroço quanto às premissas e julgamentos a que as matérias dariam azo. Presto enfoque ao que relataram da escassez da mão-de-obra, a suposta dificuldade do Polo Industrial de Manaus de encontrar e reter talentos.


Primeiro, se considerarmos a frase “recurso humano é o bem mais valioso” como algo verdadeiro, e não simples clichê, há que assumir a escassez, que é inerente a qualquer recurso, como marca ainda mais forte para o ser humano.


Por óbvio, é o lado demandante que mais sofre com essa escassez inerente. O empresário. O executivo gestor de recursos humanos. Sobretudo agora, época em que estamos nos níveis máximos de empregabilidade tanto a nível nacional quanto regional, o sofrimento do demandante por recursos humanos é ainda maior.


Contudo, é necessário deixar claro, definitivamente, que este não é um problema de oferta. Certamente foi no início dos anos 2000, quando houve o forte e repentino crescimento da nossa produção, com breve interregno na crise de 2008, e logo a retomada ao ápice nas vésperas da Copa de 2014, com o PIM registrando o recorde de 138 mil empregos de novembro de 2013.


Natural que naquela época as universidades e demais instituições de ensino demorassem a ajustar a oferta. Mas o fizeram. No início da década de 2010 o Amazonas aumentou sobremaneira a oferta de vagas em ensino Técnico e Superior, em instituições governamentais e particulares. A ponto que, por dados de 2022 do Censo da Educação, o Amazonas tinha 93 mil matriculados em cursos técnicos, sendo 15 mil somente em cursos específicos para a indústria.


No nível Superior a oferta é bem maior. Total de 179 mil matriculados, sendo 13 mil em engenharias, 8.600 em Computação e Tecnologias e Informação e Comunicação e 43.800 em Negócios. Que bom estamos hoje próximos de superar o recorde de 138 mil empregos, mas está claro que os sucessivos ganhos de empregos no PIM no período pós-pandemia ainda não foi suficiente para absorver toda essa mão-de-obra.


Mas, se os gestores sofrem para obter e reter a mão-de-obra, e as instituições estão ofertando com sobras, o que está ocorrendo exatamente e qual é a solução? A resposta é que na crise de empregabilidade dos anos 2010 os jovens precisaram abrir outros canais de colocação profissional, seja em outros setores da economia amazonense, ou em qualquer lugar do mundo. Até o bom desempenho recente do PIM explica isso, pelo ecossistema que tem formado no setor de Serviços.


Quanto à solução, ela depende que o PIM persista no desempenho positivo a ponto de dar aos investidores a segurança que vale a pena elevar a oferta de benefícios até o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda. Também, a consciência que muitos e bons jovens estão aqui pode colaborar para o adensamento e otimização de muitas atividades hoje realizadas nas matrizes em São Paulo ou em outros países. Talentos querem bons trabalhos.


A curto prazo, o que há para fazer é anular as cunhas que separam os empregadores dos jovens potenciais candidatos, em qualidade e quantidade. Envolve articulação, diálogo pessoal entre líderes empresariais e das instituições de ensino para que os jovens saibam que existe um Polo Industrial de Manaus, e trabalhar lá é bom.