Adensamento e Otimização das Cadeias Produtivas do PIM

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André Ricardo Reis Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam


À parte a luta política pela sua continuidade, a maior questão acerca do Polo Industrial de Manaus é o máximo de valor que ele pode gerar à sociedade amazonense. É olhar os atuais R$ 205 bilhões em faturamento e 130 mil empregos diretos e se questionar “qual o máximo que poderíamos alcançar na hipótese de um ambiente de negócios perfeito?”. O faturamento seria próximo a R$ 1 trilhão? Os empregos diretos seriam mais que 500 mil?


Precisamos nos impor a meta de alcançar esse máximo o quanto antes de 2070. O caminho para tanto é adensar e otimizar as cadeias produtivas atuais e em potencial. O estudo das cadeias produtivas é antigo. Está aí à disposição para direcionar o impulsionamento da nossa indústria. Adensamento é trazer ao PIM a produção de insumos adquiridos de outros estados ou países, ou trazer a Manaus etapas posteriores à entrega dos produtos ou aglomerar mais indústrias em torno de serviços compartilhados. A otimização é dispensar o adensamento na medida em que ele é contraproducente à rentabilidade dos negócios locais.


Geralmente essas perspectivas são complementares ou sequenciais. Comecemos pelo caso do ar-condicionado: A exigência de nacionalização dos motocompressores numa primeira leitura seria um incentivo ao adensamento. Contudo, enquanto não desenvolvemos as competências na cadeia produtiva, a produção local de ar-condicionados fica presa a aquisições ineficientes, que prejudicam a rentabilidade.


Daí se começaria pela otimização, dispensando ou reduzindo a exigência pela nacionalização de motocompressores. Em paralelo, a demanda expressa pela segunda maior produção de ar-condicionados do mundo justificaria desenvolver, por meio de pesquisa e ajustes regulatórios, uma cadeia produtiva local de motocompressores. Desde o fornecimento do aço às tecnologias de ponta em metalurgia.


Em textos anteriores citei caminhos de otimização e adensamento para pneumáticos e TVs. Agora, ao citar ar-condicionados percebo que a metalurgia se repete. É uma competência necessária a quase todos os setores do PIM. Ao ampliar o ponto de vista para além do nível das empresas é possível somar todos os insumos hoje adquiridos de modo esparso, descoordenado, de fornecedores distantes. Exemplos são aço, alumínio, cobre e polímeros.


Somos próximos a jazidas de ferro e bauxita, ricas em quantidade e qualidade, mas quase nada da nossa demanda por metais é abastecida em linha reta desde as jazidas. Pudera, a logística em torno do ferro de Carajás é otimizada para expulsá-lo do Brasil. De modo que há eventos em que importamos da Ásia estruturas de metais feitas com ferro paraense.


Nossa demanda total por aço, composta pela produção atual de motocicletas, embarcações, ar-condicionados, e todo o restante de bens de informática e eletroeletrônicos, é próxima a 500 mil toneladas por ano. Quão mais demandaremos e produziremos em cenário de fornecimento em linha reta? Uma siderúrgica próxima a Carajás produz 300 mil toneladas, mas é sobretudo para construção civil, e envia ao Sudeste.


Talvez de Marabá traríamos o aço, e no meio do caminho o alumínio. Ou faríamos no Amazonas a siderurgia de ambos. É verdade que temos experiência negativa nesse tema, a estatal Siderama. Mas até a China tem e não se conteve pelo fracasso pretérito. Temos hoje efetiva demanda pelos metais bem como a oferta de energia, com o gás de Coari e Silves. Talvez o que ainda nos falta é coordenação, diálogo e visão estratégica.