Chegou a hora da BR-319

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Augusto César Barreto Rocha

Doutor em Engenharia de Transportes e professor da Ufam



Os que são contrários à recuperação da rodovia BR-319 encontram todo tipo de argumento. Até o fato de a rodovia não funcionar é o último deles. “Ora, como não é usada, não deve ser feita!”. O interesse é tão forte e tão sem sustentação, que se busca toda ordem de contrarrazões, mesmo as não razoáveis. Afinal, se a indústria não usa a rodovia, por ela não existir, ela não poderá nem vai querer usar no futuro.


Os que são favoráveis, vez por outra, comentem o mesmo deslize: como “o pessoal do meio ambiente é contra, então eles serão sempre contra”. A dificuldade de encontrar um diálogo para fazer a rodovia parece que pouco a pouco vai se desfazendo. Já há no ar uma capacidade de diálogo e de um legítimo interesse de ouvir o outro lado. Assim, o entendimento entre as necessidades imperativas de proteção da floresta, somada com a necessidade fundamental de recuperação da rodovia se encontram, pouco a pouco.


A conciliação para a ação depende ainda de mais velocidade. Hoje somos pródigos em girar pelos contrastes que levam a paralização. Somos hábeis em criticar para falar mal dos contrários. O diálogo construtivo e transformador é a grande oportunidade. A decisão de fazer, com todos os cuidados necessários sendo tomados. Fazer, com as proteções ambientais e diretrizes de desenvolvimento sustentável.


Enquanto não colocarmos a necessidade das pessoas no centro do desenvolvimento da Amazônia, teremos sempre muita dificuldade para transformar a realidade. Hoje vivemos uma situação única: uma destruição continuada e lenta, com pouca proteção da floresta, com recursos disponíveis no Ministério do Transporte e conhecimento técnico sobre como fazer, mas insistimos em não fazer. A decisão da sociedade precisa mudar e cabe as Engenharias identificar com fazer esta obra com maestria, como um modelo para o mundo de uma obra que respeita a biodiversidade.


Os estudos do Ministério do Meio Ambiente normalmente são contrários porque a base de projeções do DNIT era tímida quanto ao tráfego da rodovia e as salvaguardas ambientais têm sido poucas ou nenhuma. Espera-se que no estudo conjunto, que o Governo Federal está por apresentar, estas lacunas tenham sido transpostas. Afinal, é necessário decidir fazer antes de emergir a solução que atenda ao necessário.


O verão de 2023 trouxe uma enorme seca e com ela os olhos do país voltaram-se para a região, não para o socorro das pessoas ou o apoio, mas para a preocupação com relação à Black Friday ou com o Natal. A rodovia tem o papel de servir para as duas coisas: conectar Manaus e viabilizar a entrega ininterrupta dos produtos industriais de Manaus para todo o país. Foi necessária uma seca histórica para rompermos as últimas resistências.


A mensagem final de reflexão é que a obra sem as proteções ambientais será um grande erro. Só há um caminho: construir rodovias na Amazônia precisa ter um novo paradigma e a BR-319 precisa ser emblemática no sentido de transporte, desenvolvimento e proteção ambiental. Integração sem destruição. Integração com ampliação da proteção. Estes são os motes que devem nortear este esforço que o país fará. Será a primeira iniciativa importante para diminuir a disparidade em infraestrutura do Amazonas que se realiza em várias décadas.