Competitividade e governança: elementos essenciais para a Amazônia
Augusto César Barreto Rocha
Doutor em Engenharia de Transportes e Professor da Ufam
Há tanto para ser feito na Amazônia que costumamos nos perder nos detalhes. A presença de governos e do Estado é sempre aquém das necessidades, dada a imensidão dos problemas e dos potenciais. Há muito menos recursos e investimentos do que as carências e oportunidades. Assim, vivemos entre a modernidade das maiores capitais e o atraso do interior, sem uma infraestrutura minimamente razoável, com um visível abandono do interior profundo, mesmo que neste ambiente exista a potencialidade da natureza e dos conhecimentos tradicionais por todos os lados.
Só vamos aproveitar as potências regionais se houver um reconhecimento da natureza, das pessoas e dos saberes locais, com uma integração ao país por uma infraestrutura de transportes, energia e telecomunicações. Caso contrário, continuaremos a desperdiçar recursos, tratando como “impessoas” os que aqui estão, como asseverou o Professor do MIT Noam Chomsky, sobre outro contexto. Estamos presos em uma ilusão de que podemos explorar e desrespeitar este lugar, sem nos importarmos com as oportunidades responsáveis. Continuaremos a repetir os hábitos de destruição e descaso com os potenciais locais, querendo imitar modelos inadequados ao presente. Como argumentou Martin Wolf, em seu livro sobre “A Crise do Capitalismo Democrático”, se a riqueza vier da conquista do poder político ou dos favores da quem o tem, esta “não será uma economia de mercado competitiva”.
É necessário um pensamento mais moderno de governança para viabilizar uma transformação para melhor na região. Hoje estamos presos em modelos mentais do passado, com as discussões presas por alternativas inadequadas, onde se fala com frequência na importância e potencial do turismo. Este setor chama a atenção, por pouco ou quase nada se fazer de concreto para a atração de turistas e, mais recentemente, as viagens internas estão praticamente inviáveis, pelos preços elevados das passagens aéreas e a falta de portos apropriados ao turismo. As viagens dentro da Amazônia são, com frequência, mais caras do que viagens para o exterior, com baixa ou nenhuma frequência de voos, mesmo entre capitais.
As discussões seguem com as pautas do passado, sem superar tópicos, como se eles estivessem resolvidos. A simples movimentação de pessoas, por barcos, aviões ou rodovias é muito limitada, como se estivéssemos décadas no passado, presos em uma estrutura arcaica e cara. Discute-se a construção de infraestrutura ou de soluções, como se fosse um absurdo econômico ou ambiental e não se observa que a construção é uma mera recuperação do que um dia já existiu ou a mesma medida já realizada em outras partes do país.
As instituições da Amazônia precisam fortalecer seu papel diante das demais instituições nacionais. Suframa, Sudam, Universidades, representações empresariais e outros precisam participar com mais intensidade da vida política, como disse Timothy Snyder, não porque o mundo se preocupe como nos sentimos, mas porque o “mundo reage” ao que nós fazemos. Precisamos assumir a liderança do que fazer na Amazônia, pois a todo momento aparece uma instituição de outros lugares, que teimam em indicar o que e como devemos agir no nosso território.