Cortando custo como se corta unha

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração e professor da Ufam



“Custos são como as unhas, há que cortar sempre”. A frase de hoje é do economista Jorge Paulo Lemann, conhecido habitué das listas de mais ricos do Brasil. Entre peculiaridades de sua biografia há o fato de primeiro ter enriquecido como banqueiro, depois se tornou industrial. Expandiu seu patrimônio por sucessivas aquisições que se mostraram fonte de valor por aplicar, nas empresas adquiridas, agressiva gestão estratégica de custos. Da composição dos produtos ao tanto de cola usada para adesivar os rótulos. Que suas empresas tenham apresentado problemas de governança, peço humildemente ao leitor que deixe esse aspecto naquela gaveta à esquerda.


Redução de custos, aumento de receita e alavancagem financeira são as formas imediatas de gerar valor ao nível das empresas. As empresas do Polo Industrial de Manaus são exímias gestoras de custos. Tanto na administração das operações quanto nos projetos de inovação, posto que costumam receber os desenhos dos produtos e as listas de materiais necessários e a partir de então executam as ordens de produção de modo a consumir o mínimo possível em termos de gastos gerais de fabricação. Nesse sentido também elas costumam agir no que são incentivadas a inovar.


Essa rotina operacional em que as empresas do PIM atuam mais fortemente na gestão de custos é o que no agronegócio se costuma expressar como de “porteira para dentro”. É o ambiente interno, imediatamente ao alcance dos gestores. Os problemas de competitividade do Brasil costumam ocorrer “da porteira pra fora”. O ambiente externo, tão dependente da ação governamental e da cooperação entre os agentes econômicos de diversos setores. No ambiente interno a mão visível dos gestores costuma atuar com efetividade, aplicando rapidamente os novos métodos e instrumentos. No ambiente externo tudo é mais difícil. Envolve a obtenção e compreensão das informações e, numa atitude muitas vezes altruísta e com visão de longo prazo, usá-las como argumentos em prol de ganhos que beneficiem a coletividade.


Ou seja, a nível da uma comunidade, a cooperação é fonte de valor. Os problemas e gargalos identificados oportunamente viabilizam a redução de custos, aumento de receita e alavancagem financeira, que permite ganhos de escala e expansão patrimonial. Emprego e renda. Prosperidade, riqueza. Sustentabilidade


O que certamente falta ao Amazonas é ver a si mesmo como um contumaz identificador de gargalos. Cortador de unhas em mínimos crescimento. Essa não tem sido a regra. Ano passado mais uma vez pagamos para ver quão grave seria a estiagem. Repetiremos o erro neste 2024? E quanto aos demais modais, rodoviário e aéreo, como podemos rastrear cada atividade, cada fase das operações, com vistas a torná-las mais eficientes?


Transbordo, armazenagem, manuseio... São termos que traduzem infinitas ações e instrumentos. Problemas que envolvem dedicado esforço e cooperação em qualquer lugar do mundo, quanto mais no coração da Amazônia Ocidental. Visto que a logística é uma das principais dimensões dos nossos esforços em prol da competitividade, quando se esquadrinha cada um de seus termos acabamos por encontrar todas as outras dimensões, e oportunidades de cooperação, compreensão e aperfeiçoamento do nosso ambiente de negócios.


O caminho a seguir, o mínimo obrigatório, é que os líderes locais se imiscuam ao máximo nos detalhes de cada cadeia de aquisição, produção e distribuição. Procurando avidamente pelas unhas que ameaçam crescer. E cortá-las antes que alguém possa dizer que não geramos valor.