Crescimento fundamentado: Sim, podemos!

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração e professor da Ufam


Diante do histórico da economia amazonense nas últimas décadas, a primeira saudade vem dos picos de produção e emprego do intervalo de 2011 a 2013. Todavia, prefiro a evolução dos anos 2003 a 2008. Aquele pico ocorreu por bases frágeis, consumo artificialmente induzido na época dos grandes eventos, sobrejacente excesso de investimentos e endividamento por parte das empresas locais, gerando traumas difíceis de contornar. A evolução da década de 2000 se realizou fundamentada em alicerces que permitiram usufruir bem de circunstâncias favoráveis a níveis local e nacional. Méritos podem ser apontados a grupos empresariais bem identificáveis, como Amaggi, Bertolini, Simões, Super Terminais e Chibatão. O presente nos pede compreender o que foi feito para que retomemos a ousadia.


Remetem ao grupo Amaggi os fundamentos da atual estrutura que faz da bacia amazônica o principal escoadouro de soja no mundo. Em 1993, quando era tudo mato, negociou a criação da Hermasa, uma sociedade de economia mista em que o governo do Amazonas integralizou um terço do investimento e renunciava ao poder decisório. Construiu em Itacoatiara porto e armazém para receber balsas que subiriam o rio Madeira carregadas de soja, aproveitando a coincidência entre o período de colheita da safra e a cheia dos rios, fazendo transbordo para embarcações maiores visto a permissão de calado maior do rio Amazonas. Recentemente o Grupo Simões criou estrutura congênere ainda na vila de Novo Remanso, na mesma Itacoatiara. O Amazonas se tornou um novo caminho para o Brasil.


O grupo Bertolini fez valer uma das incontestes vocações do povo amazonense: A construção naval. Que sejam balsas construídas na Amazônia as balsas que recolhem a soja em Rondônia. É extraordinário que tenham conseguido sucesso num setor de ciclo operacional tão longo, quase proibitivo diante das nossas taxas de juros. Competência de ser prestigiada como o é aquela montadora de aviões do interior de São Paulo. No início dos anos 2000 os suprimentos do PIM ainda eram obtidos majoritariamente pelo uso dessas balsas.


Em seguida, porém, as gestões dos importadores, armadores e dos portos Chibatão e Super Terminais providenciaram que navios de grande porte viessem a Manaus em longo curso desde a Ásia. Pela maior capacidade, reduziu sobremaneira o preço do frete, ou no mínimo impediu que a subida vertiginosa do preço do petróleo da década de 2000 fosse totalmente repassada aos nossos custos de importação. Em 1997 o ticket-frete absorvia a 5% o preço do petróleo. Em julho de 2008, a 20%. Ou seja, o frete aumentou menos de 100% ´despeito o preço do petróleo ter aumentado quase 600%.


Como consequência, as indústrias locais ficaram à vontade para usufruir do esquema de incentivos estaduais do ICMS e do fortalecimento do mercado interno brasileiro sob controle da inflação e dos balanços orçamentários. Até 2004 as importações para o PIM não passavam de 500 mil toneladas. Praticamente só se importava granéis como petróleo e derivados. Em 2008 já eram 915 mil toneladas importadas para o PIM, consolidando o perfil industrial da Zona Franca de Manaus, que inclusive permitiu à nossa economia a pronta recuperação do pós-pandemia.


Esses exemplos trazem para 2024 as referências de ocasiões em que forjamos para nós um crescimento fundamentado, potencializando os fatores de competitividade. São provas que sim, podemos! E se sobrevierem cenários construídos por frágeis artifícios, o certo é dizer não. Fujamos!