Indústria de Defesa: Uma nova fronteira para o PIM

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam


Quais os maiores eventos da economia amazonense nas últimas três décadas? Arrisco resposta: O estabelecimento dos três portos privados, a vinda das duas gigantes coreanas de eletrônicos, o gasoduto e a verticalização no setor de Duas Rodas. Em quais áreas podemos repetir esses sucessos? Vejo três: A Bioeconomia, o Plano Amazonense de Logística de Transportes (PALT) e o Comitê da Indústria de Defesa da Amazônia (Condefesa).


A Bioeconomia parece não atentar para os fatores institucionais e de produção. O PALT ainda não tem recebido a merecida atenção dos líderes governamentais. O Condefesa Amazônia se mostra então como o mais imediato. Há referência e estruturas prontas. E proatividade dos principais atores.


A oportunidade vem da Estratégia Nacional de Defesa, enunciada pelo Decreto 6.703/08, e do programa Complexo Industrial de Defesa, sob liderança conjunta do Ministério da Defesa e Ministério de Ciência e Tecnologia. São iniciativas para que a indústria brasileira se insira num mercado global de aproximadamente US$ 570 bilhões.


Obviamente o primeiro caminho é o fornecimento de materiais e equipamentos às estruturas oficiais de segurança e defesa, que no Brasil chega a R$ 175 bilhões. Acrescenta-se a segunda oportunidade de ganho, o mercado civil de segurança, e o potencial alcança R$ 307 bilhões. E o nível de exportações ainda é de R$ 27 bilhões. Muito a conquistar.


Esses dados são da Federação das Indústrias de Santa Catarina – FIESC, cujo líder também preside o Condefesa nacional, conselho temático da Confederação Nacional da Indústria – CNI, ao lado de Antônio Silva, presidente da FIEAM, que agora institui o Condefesa Amazônia, junto ao presidente do CIEAM, Luiz Augusto Rocha. A união entre as instituições acadêmicas, de defesa e industriais norteiam a iniciativa nos âmbitos nacional e local.


A iniciativa é auspiciosa pelos precedentes históricos e a realidade atual do PIM em suas virtudes e lacunas. Os precedentes remetem a extraordinários progressos sociais ocasionados pela disseminação de produtos e serviços inicialmente pensados para fins militares. Internet, processadores e equipamentos de proteção individual, estes hoje usados mais largamente em situações de proteção e resgate, como combate a incêndios, que para situações de combate. Pela demanda militar, os EUA multiplicaram por quase 25 a produção anual de aviões de 1939 a 1945.


Estabelecido na Amazônia, o Condefesa pode ser o vetor do que há muito se espera para aproveitar as complementaridades entre os subsetores do tão diversificado PIM, e os institutos de pesquisa. Imagino, por exemplo, a demanda militar requerendo que os painéis e instrumentação digital das embarcações e motocicletas sejam projetados e produzidos no PIM. E nova força de adensamento das cadeias produtivas, ‘n’ situações em que descobre aplicações vantajosas de um material e se provê a plena produção no PIM.


Em poucos anos parte do faturamento do PIM será associada à Indústria de Defesa e Segurança. Mais que isso, o Condefesa Amazônia pode avançar para aspectos intangíveis. A colaboração militar para a economia vai além das licitações e certificações. Inúmeros métodos de gestão têm origens nas aplicações militares, como 6 sigma, matriz de Eisenhower e Teoria dos Jogos. E o principal recurso, aquele que não se calcula, em Manaus o Exército cultiva na escola que pode estar entre as melhores do mundo. Este recurso indo ao PIM, poderemos dizer que o Vale do Silício é aqui.


Crédito imagem: Pexels_Kateryna Babaieva