Missão, visão e valores do PIM e seus subsetores
André Ricardo Costa
Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam
Há mais de setenta anos o economista austríaco Peter Drucker propôs, principalmente na obra The Practice of Management (no Brasil, “A Prática da Administração de Empresas”), o que hoje é tão comum nas empresas do mundo inteiro quanto à reflexão, escolha e comunicação da missão, visão e valores. Trata-se de uma referência que uma empresa provê para si mesma a fim de crescer com segurança, mesmo em meio a crises econômicas e mudanças tecnológicas. Se entender seu negócio, o âmago das necessidades de seus clientes atuais e potenciais, a empresa consegue adaptar seus processos e melhorar a posição no mercado em bons e maus momentos econômicos.
Na década de 1990 outro economista, Michael Porter, criticou o tanto que as políticas econômicas costumam negligenciar os princípios e práticas de gestão empresarial e o quanto elas são poderosas para descrever e formular soluções aos problemas gerais de desenvolvimento. O contexto foi a adaptação de seus modelos de cinco forças e vantagens competitivas, inicialmente pensados no nível das empresas, para enunciar a teoria de clusters, sobre o papel da proximidade e especialização para que uma região seja competitiva em uma atividade econômica.
O contexto brasileiro e amazonense também padecem dessas lacunas, nas políticas econômicas gerais, nas políticas industriais e nas políticas de inovação pouca atenção se costuma dar aos princípios e modelos de gestão. A solução é traçar diagnósticos setoriais buscando otimizar e adensar as cadeias produtivas, e prover o conhecimento essencial dos padrões tecnológicos e se antecipar às tendências, tendo como foco a missão de cada produtos dos setores que nos são caros.
Em texto recente sintetizei investigação para a cadeia de pneumáticos. Se partirmos para os setores mais representativos do PIM vamos precisar compreender as missões que devem buscar nossas empresas produtoras de motocicletas, televisores e ar-condicionado. O que o PIM deve fazer para que essas cadeias prossigam como fonte relevante de valor e renda despeito eventuais crises ou mudanças tecnológicas?
No caso das TVs, suas 14 milhões de unidades produzidas derivam de 10 mil pessoas vinculadas a 10 empresas. Seus insumos relacionam-se a três outras cadeias: A de telas de cristais líquidos, as placas de processamento e as estruturas metais e plásticas. Tudo combinado a uma missão: Proporcionar as melhores experiências visuais à população brasileira.
A curto prazo o que há para resolver é a perda de nacionalização das telas de cristais líquidos. Importamos agora quase a totalidade, sendo que até há pouco a maior parte dos módulos era montada em Manaus. A longo prazo, outros dispositivos podem substituir as TVs em prover experiências visuais à população brasileira. Os óculos 3D, provavelmente.
Para não deixar em risco os 10 mil empregos e tributos arrecadados, nos é necessário dominar o conhecimento básico de todas as etapas da evolução da tecnologia de telas, injeção plástica e metalurgia, incluindo nas grades do Ensino Técnico e Superior temas tais como a cristalização controlada de vidros, micro-óptica em vidro-cerâmica, a química dos líquidos nemáticos, e a epitaxia, base da formação dos diodos emissores de luz, Nobel de Física de 2014.