PALT: Obra dos homens e da tecnologia

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração e professor da Ufam



Até semana passada o maior rio do mundo não era visto como estratégico para a logística brasileira. Mesmo que olhemos para frente, jamais esqueçamos quando o Amazonas quase secou, e o tanto que fomos prejudicados os que dele dependemos. Nunca se imaginou que aquilo ocorreria. Até agosto do ano passado a curva das medições diárias do Rio Amazonas ainda no Peru indicava evolução dentro da média história. A surpresa sobreveio nas semanas conseguintes, com derrocada quase em linha reta. Às pressas se buscou uma solução, que no final veio de Deus. As chuvas na calha e o degelo nas cabeceiras que elevaram o nível do rio e nos trouxeram de volta para a conexão com o resto do mundo.


Agora se anuncia que daqui para frente tudo vai ser diferente. Vejo boas razões para crer nisso. Há articulações por propostas de curto, médio e longo prazos. O governo federal acaba de anunciar a dragagem da foz do Madeira para julho próximo. As credenciais do servidor líder deste processo dão otimismo quanto à fluidez da licitação. Para médio prazo a promessa é estabelecer boa sinalização, e dragagem em outros trechos. Para longo prazo uma das propostas são concessões para estabelecimento e manutenção de verdadeiras hidrovias na bacia amazônica.


O que também promete ser diferente é o padrão do clima. Suspeita-se que a Grande Seca de 2023 foi mais ocasionada por mudanças climáticas, de expressão irregular, que pelo El Niño, de padrões mais facilmente identificáveis. Ou seja, diante das infinitas provações e graças que Deus pode nos enviar, precisamos fazer nossa parte. Valem os versos de Drummond, onde Deus responde a um brasileiro queixoso dos flagelos da seca no Nordeste recomendando olhar ao recém-criado estado de Israel, onde pomares frutificavam no deserto: “não é por milagre: obra do homem e da tecnologia”.


Como sói a uma obra ou tecnologia, o homem precisa planejar. Já se pode dizer que houve acordo, envolvendo o Dnit e Antaq, em presença do governo estadual, por um Plano Amazonas de Logística de Transportes, talvez chamado PALT, para reunir recursos e efetivar as melhores propostas de curto a longo prazo capazes de remover os obstáculos socioeconômicos derivados de nossas peculiaridades logísticas.


O PALT nasceu em clara construção coletiva e cresce ao caminho da formalização. Até lá um primeiro vetor a cumprir é a incessante produção e divulgação de dados. Simbólico que a dragagem só tenha havido após a batimetria da Marinha, criando dados para atualização das cartas náuticas dos trechos fluviais então estrangulados. Os dados serão atualizados e acumulados, servindo já para a próxima dragagem e depois, para o planejamento de eventuais concessões e obras em todos os modais. Em permanente divulgação, permitirão que infinitas origens proponham soluções.


Pura ciência resolvendo questões sociais. Uma rotina de coleta e análise de dados permitirá apontar as intervenções mais efetivas para assegurar a navegabilidade, construção e condução das embarcações em nossos rios. Com ambição e persistência na pesquisa e inovação, um dia dispensaremos a praticagem. Sim, podemos!


Tratando dos demais modais, o PALT empregará em sinergia os recursos dos três entes, e otimizará as regras. Viabilizará soluções que sabemos óbvias, como a BR-319, aeroportos e portos no interior, que sequer têm rampas. Também realizará o distante, como corredores de comércio com os vizinhos do Caribe e Andes. Essa será a nossa obra e tecnologia.