Pela verdadeira inovação

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração e professor da Ufam


O desprezo à pesquisa é uma tradição do Brasil. No Amazonas, não precisa con­tinuar sendo. Em entrevista recente, jovem empresário local entusiasta da ciência como fonte de valor relatou procurar continuamente as instituições nacionais e gru­pos de pesquisa mais produ­tivos em temas amazônicos, para contribuir financeira­mente. Só os encontra na região Sudeste.


Cito, do passado e do presente, exemplos do Brasil como um todo e do Amazo­nas em particular. Uma notá­vel descoberta para a econo­mia brasileira foi a celulose de fibra curta, em pesquisa financiada pela Suzano na Universidade da Flórida na década de 1950. Esta pesqui­sa permitiu à Suzano e ao Brasil serem a maior empresa e o maior país em produção de celulose. O conhecimento se espalhou e várias outras empresas produtoras de ce­lulose surgiram no Brasil.


Hoje, atenta ao futuro da metalurgia, a Gerdau patro­cina pesquisas com nióbio e seu famoso derivado, o gra­feno, na Universidade de Manchester. Com sua pro­priedade de aumento da con­dutividade elétrica, desne­cessário dizer o quanto esse material é demandado para os carros elétricos. Desneces­sário também é recordar que o Amazonas é, neste planeta, o santuário do nióbio, com as autorizações que pulularam para pesquisa em São Ga­briel da Cachoeira, fazendo deste município uma das principais fontes das parcas exportações do Amazonas.


Com as devidas sal­vaguardas ambientais na produção em São Gabriel, o Amazonas pode ser, por meio do nióbio, uma das fontes da descarbonização da economia mundial. O risco é que sejamos meros exportadores de mais esta commodity. Vamos lá, Ufam, UEA e demais institutos, fa­zer o Amazonas ser líder em beneficiamento e aplicação do nióbio e derivados?


Devido à Lei de Informá­tica, o Amazonas sedia deze­nas de institutos de pesquisa. Contudo, o nosso chamado “ecossistema de inovação” tem se limitado a inovações de processos. Ou menos que isso, tem se limitado a preparar as fábricas a serem prontas usuárias dos artefa­tos industriais mais moder­nos. Estes artefatos, reunidos pela alcunha “Indústria 4.0”, proferida pelo governo ale­mão, costumam ser absorvi­dos pelas indústrias locais em trilhas de maturidade, projetos financiados por re­cursos da Lei de Informática para garantir que as estrutu­ras locais estejam permanen­temente prontas para adotar as tecnologias mais recentes.


Ou seja, nosso ecossistema ainda está longe de produ­zir a inovação propriamente dita, que é aquela descrita e proposta há décadas por autores como Joseph Schum­peter e Zvi Griliches como a que muda estruturas de mer­cado, eleva produtividade e leva as pessoas a dedicarem menos salários-hora para sa­tisfazerem suas necessida­des. Qual projeto de P&D aprovado pelo Capda mudou o mercado de transportes ou de comunicações?


A raiz deste problema está na omissão da Lei de Informática e seus regula­mentos em tratar das es­truturas de governança das empresas. Proponho como solução não uma nova lei, mas uma nova estratégia. O que é feito nas fábricas locais quanto à maturidade para aplicar a Indústria 4.0 pode ser replicado para avaliar a maturidade dos nossos ins­titutos de pesquisa, para que eles sejam aptos a praticar a verdadeira inovação. O que falta para que nossos insti­tutos sejam capazes de mu­dar mercados, seja na área de informática, transporte, alimentos, vestuário, bioe­conomia e materiais, entre eles o nióbio?


Com essa nova aborda­gem, nossos institutos se mostrariam aptos a receber patrocínio de investidores fãs da ciência, e ajudariam nossas empresas a desenhar novos produtos e mudar es­truturas de mercado, no Bra­sil e no mundo.