Pode o PIM pagar pouco?

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam


Não. Como, de fato, o PIM não paga pouco. O PIM pagasse pouco, não faria sentido lutar tanto por ele em defesas e conquistas, e comemorar os ganhos na atual Reforma Tributária. Seria o caso de deixar desvanecer esse modelo de desenvolvimento prevalecente na Amazônia Ocidental, e voltarmos nossas ambições à extração de recursos da floresta.


O PIM não paga pouco. Por dados do Ministério do Trabalho e Emprego, obtidos dos Relatórios Anuais de Informações Sociais, de preenchimento obrigatório pelas empresas, o PIM é, dos grandes setores da economia amazonense, o que melhor paga. R$ 3.420 em média. Não bastasse, é o que concede maior estabilidade no emprego, com quase 27 meses de tempo médio nos vínculos. Não bastasse, também é o setor que concede mais benefícios diretos, como creches, plano de saúde e subsídio à educação e treinamento, e indiretos, relacionados à qualidade do trabalho, como transporte próprio, refeitório e ambulatórios. O maior, talvez, é a possibilidade de ascender a cargos máximos em empresas multinacionais.


Surpreendentemente, o PIM está bem localizado na comparação com os salários pagos na indústria de transformação de outros estados. É o quarto maior. Perde apenas para Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Está acima do Paraná e Santa Catarina. Acrescenta-se que a posição do Rio de Janeiro é algo a ser relativizado, pois tem contingente bem menor de trabalhadores industriais, e elevada concentração na refinaria estatal.


Pressões políticas nas decisões corporativas nunca é algo recomendável. Pode ser tentador, a se pensar no potencial de votos entre os 130 mil trabalhadores atuais do PIM. Contudo, se elas forem efetivadas, podem ter como efeito último o desestímulo aos investimentos que poderiam aumentar o total de vínculos trabalhistas. Sim, é um tema controverso. Por enquanto, pode-se apegar à verdade: Qualquer pressão para elevar salários deve ocorrer nos grandes setores econômicos em que de fato os salários são menores. No Amazonas, não é na indústria da transformação.


Não se entenda uma ingenuidade, como o PIM não tivesse muito a melhorar. Há, sim, empregadores que se permitem sofrer maiores custos de ajustamento – contratar, treinar e depois perder funcionários, que elevar os salários, como se espera em ambiente de racionalidade econômica. Isso é uma demora na percepção da realidade, que somente seria acelerada com forte aumento na concorrência na demanda por mão-de-obra. Um investidor diria: “Olha só como nesse subsetor as empresas estão improdutivas. Vou investir oferecendo salários maiores e ganhar mercado pelo ganho de produtividade com mão-de-obra estável.”


Porém, esse investidor olha o ambiente de negócios do PIM e percebe “nossa... tem que submeter processo ao CAS, ao Codam, à Sudam, ao IPAAM, à prefeitura...”. E posterga o investimento. Veja-se o caso da gigante de compressores: Há tempos o PIM já era o segundo maior produtor de ar-condicionado. Precisou a produção já elevada quase decuplicar para que ela anunciasse a intenção de vir ao PIM. Com um ambiente de negócios mais ágil, ela teria vindo antes? Provavelmente.

Reconheça-se, prometer melhorias no ambiente de negócios seria escolha por um tema muito sutil e abstrato, mas se o discurso político quiser alcançar as massas com o que é verdadeiro e efetivo, esse seria o caminho adequado para conquistar os votos de todos os que dependem do PIM.