R$ 1 bilhão sobre a mesa

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam



Quem gosta de oligopólios, além dos oligopolistas? Ninguém. Governos e populações torcem o nariz e trabalham contra ocorrências de concentração de mercado, receando aumento de preços e lucros excessivos. Todavia, o economista tcheco Joseph Schumpeter (1883-1950) demonstrou que oligopólios e monopólios podem ser coisa boa. Vejo os dois lados da moeda na atual questão do transporte aquaviário para Manaus, suspenso para navios de grande porte desde 8 de outubro devido à maior seca da História. Explico.


Em tese, empresas maiores tendem a ser mais eficientes, e inovar nesse sentido, a fim de manter o poder de mercado ofertando em elevados volumes e margens estreitas. Os ganhos indevidos de monopólio não são muito frequentes. Os monopolistas temem que um inovador radical numa noite lhe tome o poder de mercado. É raro, mas acontece sempre. Vide Steve Jobs com IBM e Jeff Bezos com Wall Mart.


Ocorre que o desafiante precisa ter informações sobre o mercado. Jobs e Bezos tinham informações sobre a IBM e o Wall Mart porque não havia jeito, os produtos delas estavam nas prateleiras. Daquelas informações públicas esses famosos inovadores viram o tanto de dinheiro que estava sobre a mesa pela inação das monopolistas. Então, se o monopolista retém a informação, resta às vítimas do monopólio que compartilhem as informações entre si, e à sociedade, pois nela pode estar o inovador radical capaz de solucionar a estrutura de mercado.


A produção do PIM e o transporte aquaviário evoluíram em formidável simbiose. A troca da matriz das balsas para os navios de grande porte foi determinante para conter o custo logístico em meio à escalada no preço do petróleo de 2002 a 2007, e a reduzir o frete ao longo dos anos 2010. Também nesse período o mercado global de transporte aquaviário se consolidou, e as transportadoras vitoriosas ganharam o mercado amazonense.


Porém, agora somente as balsas conseguem navegar. Viagens programadas há meses para navios de grande porte precisaram alterar o curso, redirecionando as cargas para os portos anteriores, como Vila do Conde, Pecém e Suape. Empresas locais procuram de lá trazer as cargas por outros modais, como aéreo e BR-319, ou deixam na fila para a balsa ou esperando retomar a navegabilidade plena do rio Amazonas. Imagine os serviços adicionais envolvidos. O modal mais caro em menor oferta, o transbordo, a estadia. Seus preços não estão em prateleiras.


Por informações coletadas informalmente em parceria com o professor Dr. Augusto Rocha e o presidente-executivo do Cieam, Dr. Lucio Flavio, estimo que as empresas amazonenses sofrem prejuízo próximo a um bilhão de reais pelos dois meses de seca. Eis o dinheiro sobre a mesa. Há casos de transbordo estar custando próximo ao que se pagava pela viagem a Manaus desde a Ásia!


Liberada a via, a lição que fica é o quanto as empresas do PIM precisam melhorar a coordenação. Tivessem compartilhado o suficiente as informações sobre os custos logísticos, perceberiam a tempo que estavam botando todos os ovos em único cesto, evidenciariam a necessidade de gerir a matriz e oportunidades de inovar. Eventuais obstáculos à coordenação, provavelmente relacionados às estruturas de governança e regras de conformidade, precisam ser solucionados pelos gestores. Vale a pena o risco e o esforço. Há R$ 1 bilhão sobre a mesa.