​Três Semanas Esta Noite – O que vemos e viveremos

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam


Três semanas do “Dia da Libertação” - parece uma vida. O dia que o novo velho presidente dos Estados Unidos exibiu os cartazes com novas tarifas alfandegárias sobre o resto do mundo, variáveis entre os países, determinadas sob critérios ainda mais pitorescos que a estética da cena. Hoje a única certeza é que o alvo preferencial é a indústria chinesa, sobre quem pesam as maiores alíquotas. Fora isso, o mundo atordoado tenta entender as motivações e consequências.


Para o povo norte-americano há uma resposta imediata: Serão privados de bens duráveis baratos. Daí seguem os particulares direcionadores da opinião pública ianque. Uns acham que balança comercial é questão de justiça. Outros vislumbram importante sacrifício para retomar as capacidades industriais. Entre esses há quem cite até questões militares. Entre muitos outros, contudo, surgiu forte pensamento favorável à liberdade comercial. Num terceiro grupo há os que acham que isso é mera confusão prestes a se dissipar.


Enquanto não se dissipa, no Amazonas somos ainda uma parte do mundo que tenta se posicionar ante os riscos e oportunidades. Localizam-se nos dois lados da geração de valor: Receita e custo. As fronteiras do PIM quanto às aquisições de insumos e obtenção de receitas.


As tarifas alfandegárias, como qualquer tributo, impõem uma cunha entre fornecedores e consumidores. A maior parte dos recursos industriais chineses serão apartados do seu maior destino. Se é mais risco ou oportunidade saberemos se o impacto for mais forte entre componentes ou produtos acabados.


Boa parte dos bens duráveis do PIM concorrem com os chineses, muitos ainda lastreados em qualidade inferior e fragilidades socioambientais, para atender o mercado consumidor brasileiro. O risco é que o Brasil seja inundado por esses produtos, bem agora que o PIM está no ápice de produção, faturamento e empregos. Se esse risco for relevante, o Brasil precisará agir para preservar suas capacidades industriais. Seria irônico que as perdêssemos como efeito de segunda ordem num fenômeno em que os EUA buscam retomá-las.


Ainda no lado da receita há uma possibilidade de retomarmos algo de exportações que perdemos durante a expansão industrial chinesa nos anos 2000. Desde 1997 o Amazonas exporta em média US$ 880 milhões por ano. De 2002 a 2008 a média foi de US$ 1,37 bilhões. Era a época boa da exportação de telefones celulares. É o segundo item que mais exportamos nos últimos trinta anos, com US$ 3,5 bilhões acumulados, perdendo apenas para o extrato de bebidas, que se destaca nos últimos anos, com US$ 4,4 bilhões. As exportações de celulares ocorreram de 1999 a 2007, com o pico de US$ 1,18 bilhão em 2005, ano do nosso recorde histórico em exportações. Com o diferencial de alíquotas, pode ser oportuno ao capital chinês exportar aos EUA por meio do PIM.


Entre os custos a possibilidade de ganho é que aumente a oferta de componentes para as fábricas de bens de informática, eletrônicos e ar-condicionado. Módulos de visualização em tela, compressores, baterias e placas de circuito. São itens cujos preços merecem ser acompanhados. Não por três semanas, mas após três meses. Se EUA persistirem com barreiras maiores à China, certamente veremos algum efeito. E para o longo prazo, o que viveremos nos próximos três anos depende muito mais de nós e o sucesso dos nossos esforços por competitividade industrial.