Utopia e realidade do empreendedorismo Amazônico

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Augusto César Barreto Rocha

Doutor em Engenharia de Transportes e professor da Ufam



Uma das vantagens de transitar simultaneamente nos ambientes acadêmicos e empresariais da Amazônia por mais de 30 anos inclui admirar a trajetória de alguns ex-alunos e de empreendedores regionais. É muito perceptível quão pouco aproveitamos os talentos locais. Tenho admirado egressos da UFAM que foram para o exterior nos últimos anos e que rapidamente se destacaram.


Como é raro este espaço ser ocupado localmente. Enquanto ex-alunos vão para a Nova Zelândia e rapidamente ficam excelentemente bem-posicionados, como o caso da Engenheira Civil Lia Dias que está liderando obra que cria espaços verdes em Auckland (Nova Zelândia), logo no início da carreira, o que vejo é que leva mais de 20 anos para um aluno se posicionar como um executivo importante no setor de transportes da Amazônia e, mesmo assim, depende das estruturas do capital tradicional. Por aqui não conseguimos nem diálogo acadêmico com a Prefeitura de Manaus, quando muito apenas com o Governo Federal, por sermos próximos institucionalmente de outras instituições federais.


Utopias representam devaneios, sonhos que dão a sensação de irrealizáveis. A imensidão Amazônica, que preserva com maestria as estruturas de poder e com cautela relativa à natureza, priorizando o capital estrangeiro, seja pelo espaço, seja pela exportação de soja ou minérios. A soja é exportada, segundo algumas fontes, principalmente por duas empresas norte-americanas (Cargill e Bunge) e muito do Arco Norte é utilizado para isto. Parece uma utopia tentar mudar estas estruturas para algo mais próspero ao país.


Mergulhar na Amazônia nos leva a um túnel do tempo e tive esta oportunidade ao visitar a audaciosa solução logística empreendida em Itacoatiara, para transbordar contêineres com origem ou destino à Manaus. Mesmo ao ver a maravilhosa obra de engenharia, uma delas liderada por um ex-aluno, percebo que estamos congelados nos anos 1980. Os grupos econômicos seguem os mesmos, as multinacionais ganham cada vez mais espaço e dinheiro, seja nas mineradoras, no transporte de produtos ou nas relações de consumo, ao mesmo tempo em que o conhecimento local vai sendo ignorado ou a natureza desrespeitada.


O Estado segue abaixo do mínimo esperado ou surge simplesmente para apoiar as estruturas tradicionais ou atrapalhar as novas, sem constituir frentes inovadoras que interessem a uma renovação Amazônica em prol da natureza e da transformação social. O empreendedorismo local, para prosperar, de maneira geral, precisa forçar aqui e acolá. Será que há espaço para o progresso das pessoas locais e da proteção da natureza? É difícil ter esta esperança quando nos aproximamos do interior amazônico. Vemos transmissão de dados, grandes armadores, mineradoras e todas as gerações de riqueza sendo transferidas do país para o exterior, com o olhar complacente de todos nós.


Os centros de poder nacional e regional estão mais concentrados nas manutenções do status quo do que na criação de novas estruturas. E assim vamos desperdiçando gerações de pessoas brilhantes, como as que vão para a Alemanha ou Nova Zelândia e, simultaneamente, desestruturando os poucos projetos que dão certo e retirando recursos para ciência, tecnologia e inovação nacionais, com um insistente complexo de vira-lata, com uma ansiedade em entregar para o capital estrangeiro as nossas riquezas, sem respeito ao ritmo da natureza e das pessoas da região. Os caminhos são conhecidos e insistimos em manter a tradição que não interessa.