Os juros, o PIM e o Brasil

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André Ricardo Costa

Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam



A economia amazonense é estruturalmente sensível às taxas de juros. Selic não estives­se tão alta, provavelmente este bom ano de 2023 estaria nos sendo excelente. Nossa estrutu­ra é assim pelo nosso modelo de desenvolvimento ser baseado na indústria de transformação, com mais etapas de agregação de valor que a agropecuária e o extrativismo, fortes nos vizinhos Mato Grosso e Pará. Também nos são peculiares os níveis mínimos de nacionaliza­ção e o fato de a nossa produção ser voltada ao mercado interno brasileiro. A soja ou minério de ferro dos nossos vizinhos atendem à demanda internacio­nal, indiferente às alterações na taxa Selic por parte do Banco Central.


Em consequência, há entre os líderes locais justa preocu­pação com os juros. Para que esta preocupação se traduza em ações efetivas de cobrança às autoridades é necessário com­preender o fenômeno em toda a sua sutileza, e combatê-lo pela verdadeira raiz.


Aumentar taxa Selic é um remédio tardio, necessário e eficaz para tratar a doença da inflação, da qual o Brasil padece em remissão. Temos propensão a sofrer de aumentos descon­trolados de preços, a chamada inflação inercial, pioneiramente descrita por Mário Henrique Simonsen, em 1970. De artigos de Pérsio Arida e André La­ra-Resende, escritos em 1984, vieram a solução exitosa em debelar o componente inercial da inflação na primeira fase do Plano Real. Desde então, a doença tem sido tratada pelo remédio tardio, e os ataques à raiz do problema são pontuais.


Remédio tardio: Ruim com ele, pior sem ele. Há três ca­minhos possíveis. No meio, é contentar-se e prosseguir nes­se desenvolvimento morno de desde 1994. Numa alternativa, é retornar à década de 1980 e trocar a Selic pela própria in­flação como fator a descontar os frutos dos investimentos produtivos nas decisões de viabilidade dos projetos. Seria uma troca inicial, pois a inflação retorna com a inércia, e por sua natureza difusa, determinada por milhões de formadores de preços, rapidamente foge de controle e perverte qualquer previsão. As planilhas trocam a moeda local por uma moeda forte e os trabalhadores passam o dia fora de casa para receber uma quantia que, não adianta o quanto complementada por programas assistenciais, não chega ao fim do mês. Só por ter alguém a quem reclamar, já se percebe o remédio tardio como preferível a remédio nenhum.


O outro caminho é o ataque à raiz conforme se prometia para o pós-implementação do Plano Real. É remover os en­traves regulatórios que contêm as reses do desenvolvimento. É lutar para derrubar da nos­sa cultura tudo que é fonte de “dificuldades que vendem faci­lidades” ou do “para que ajudar se posso atrapalhar”. É forjar entre os milhões de agentes econômicos um pulso perma­nente pelo aumento da oferta de qualquer coisa, diminuindo o preço de tudo. Prosperidade é sinônimo de abundância.


Esses entraves culturais estão incrustados no Estado brasileiro. Compare-nos com os países com inflação e ju­ros baixos: Se lá estiverem, os entraves estão em proporções menos ofensivas. Então líderes amazonenses precisam juntar forças aos do restante do Bra­sil com semelhante interesse de melhoria socioeconômica. Assim teremos inflação baixa, juros baixos, forte demanda no mercado interno, maior facili­dade para cumprir os requisi­tos de nacionalização e câmbio em patamar desestimulante de adquirir concorrentes impor­tados. Tudo que o PIM quer.