Design industrial, os índios Kadiwéu e a produção de aviões na Segunda Guerra
Por André Ricardo Costa
Doutor em Administração pela USP e professor da Ufam
O planejamento industrial norte-americano foi determinante para a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra, e o prestígio à arquitetura e design industrial registrou um capítulo próprio. O país natal do fordismo não teve dificuldades em disseminar as melhores práticas para todos os itens que servissem aos esforços de guerra, levando a aumentos vertiginosos na produção de embarcações e aeronaves, por exemplo. Antes da guerra eram produzidos quase artesanalmente, mas de 1939 a 1945 a produção anual de aeronaves saltou de 2 mil para 40 mil unidades.
Uma das contribuições do design industrial foi a ideia de levar todos os serviços secundários às linhas de produção para um subsolo, por onde os montadores entrariam às centenas e, subindo uma escada, acessariam ao enorme vão aonde estariam apenas os elementos essenciais às linhas, e seus deslocamentos não interromperiam o fluxo de materiais. Arquitetos e designers especializados foram chamados a colaborar, e desenharam os mais de 9 milhões de metros quadrados em plantas industriais para a vitória na Guerra. História de Brian Potter.
Pulemos a Guerra Fria. Tão logo derrubaram o muro, berlinenses moradores do Bairro Amarelo, um enorme conjunto habitacional construído em 1985 com a estética orwelliana de 1984, puseram-se a procurar no mundo algum padrão de design que estampasse os azulejos do condomínio com tons e traços mais belos, alegres. Escolheram os encantadores desenhos dos índios Kadiwéu, do pantanal mato-grossense, e pagaram-lhes uma quantia pelos direitos autorais. História de Ribamar Bessa.
Acima dois exemplos de como o design pode melhorar nossas vidas. O primeiro, design de processos. O segundo, design de produto. Temas que não parecem receber muita atenção no planejamento industrial brasileiro e amazonense. Talvez porque pouco desafiamos o que nos é imposto desde os grandes centros.
Mais um paradigma a quebrar. Sem surpresas, as universidades estão se esforçando nesse sentido. Cito da Ufam o curso de Design Industrial, antes Desenho Industrial, que desde 1989 tem se esforçado para otimizar os processos e tornar os produtos da indústria amazonense mais encantadores. De processos, seus pesquisadores contribuíram para evitar dispêndios desnecessários com expansão apenas corrigindo ergonomia dos montadores em uma fábrica do PIM. De produto, funcionalidades nas telas de telefones celulares voltadas para deficientes visuais.
Histórias de Nelson Kuwahara, coordenador do mestrado em Design, em ocasião de apresentar a líderes industriais a capacidade, o portfolio e a inclinação colaborativa de mais esse âmbito universitário. Qualquer empresa pode buscar a colaboração por meios informais, simplesmente abrindo seu ambiente para pesquisas, com os pesquisadores assegurando total sigilo, ou por meios formais, mediante convênios com a Ufam, que permitiriam a dedicação dos pesquisadores aos projetos de inovação.
Ou seja, não procede mais afirmar que as universidades locais são fechadas à colaboração. Basta romper paradigmas e não desanimar ante as burocracias, que existem até nos lugares mais insuspeitos. Foi assim que, em outro caso, um gestor surpreendeu a matriz com um novo processo mais eficiente no consumo de matéria-prima.
Essa ousadia precisa ser disseminada, até que se alcance no horizonte o desafio de levar algo da nossa amazonidade aos desenhos de todos os produtos do nosso diversificado Polo Industrial. A contribuição de nossos traços pode ir além do selo da garça em pleno vôo. O design do PIM pode repetir o sucesso dos índios Kadiwéu.
Créditos imagem: Pinterest_Roxo D'amico