Destravando o Aeroporto de Manaus

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Augusto César Barreto Rocha

Doutor em Engenharia de Transportes e professor da Ufam


Na terça-feira, 6 de fevereiro, tive a oportunidades de moderar um evento com a participação da Concessionária do Aeroporto de Manaus (Vinci), uma empresa de carga aérea (Atlas Air), um operador logístico (Allog Group) e a ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil), com perguntas de executivos de indústrias e jornalistas. Neste encontro consegui perceber que temos um caminho para trilhar, antes de destravar o aeroporto de Manaus, que hoje se encontra com um volume de tráfego inferior ao que tinha em 2013, quando era operado pela Infraero.


A primeira grande oportunidade é cultural. Quando uma concessionária estrangeira desconhece aspectos da cultura local, terá dificuldade para maiores interações. Esta barreira é recorrente com empresas que atuam no Brasil e na Amazônia, mas quando são suplantadas, podem encontrar grandes oportunidades, basta observar a brilhante interação do Boi de Parintins com empresas multinacionais.


A segunda grande barreira é compreender a relação de causas que construíram a redução de voos para e de Manaus. Sem este diagnóstico, será difícil transcender o problema de desequilíbrio de custos no Aeroporto. Buscar mais arrecadação pelo aumento de preço, levará (e tem levado) a uma espiral de redução de tráfego e volume, afinal a lei da oferta e da demanda de Adam Smith, desde o século XVIII, faz este esclarecimento. A concessão para a iniciativa privada foi numa busca por mais eficiência. Os aumentos de custos e de preços demonstram menos eficiência.


A terceira grande oportunidade é regulatória. Desde as alterações dos marcos legais do transporte aéreo, onde a ANAC deixou de ter papel muito expressivo na questão tarifária, as empresas aéreas ganharam mais liberdade para operar, reduzindo seus preços (e não mais tarifas) nos trechos mais concorridos, abrindo espaço para maiores preços nas regiões menos demandadas, como é o caso aparente de Manaus e da Amazônia no transporte de passageiros.


A falta de demanda de voos na região Norte está se dando pela falta de oferta ou pela falta de demanda? A fala pública e privada de todos, fez-me concluir que existem muitas oportunidades, mas a Teoria dos Jogos está bem visível para quem atua apenas como cliente deste sistema de maximização de ganhos, onde o alvo é cobrar “tarifas” maiores, com um disfarce de melhores serviços, mas com uma qualidade inferior e menos frequências.


Enquanto não houver maiores repetições de voos e uma identificação das causas e atuação sobre estas causas que levaram à queda do volume de passageiros para Manaus, seguiremos com uma convergência pela mediocridade de volumes, levando ao modelo mais perverso do capitalismo em uma atividade comercial cheia de monopólios privados: maiores custos, piores serviços e menos oferta.


Em minha opinião, há dois caminhos para romper esta barreira: no primeiro deles, a ANAC, em conjunto com a Concessionária do Aeroporto se une às demais partes interessadas, com integração com a cultura local e usando um diálogo sistêmico – onde um fala e o outro responde e interage verdadeiramente, juntando hotéis, empresas de todos os tipos e governos. Há saída nesta convergência.


No segundo deles é o que não nos interessa, pedindo novas regulagens, onde a intervenção governamental se torna mandatória, criando as condições de fatores regulatórios que levem ao progresso. Fora destas duas alternativas, só resta sofrer as agruras de um péssimo monopólio privado, com custos crescentes, ofertas decrescentes e ineficiência operacional. Veremos qual será a saída desta encruzilhada.