Um convite da Indústria à Educação
André Ricardo Costa
Doutor em Administração e professor da Ufam
A indústria amazonense tem belos capítulos de cooperação com os sistemas de ensino. Está por escrever um novo, com o convite de lideranças industriais para que educadores conheçam os resultados da pesquisa sobre as demandas de profissionais para o PIM, num evento a ocorrer no início de agosto.
Este evento terá alicerces na pesquisa anterior, de 2012, no outono da consolidação do caráter industrial da Zona Franca. A década 2000 marcara a explosão de investimentos e produção. De 2004 a 2012 o faturamento do PIM aumentara de 14 para 40 bilhões de dólares, e os empregos de 80 mil para 140 mil. As instituições de ensino não percebiam o aumento da demanda e demoraram a ajustar a oferta. Ao longo daquela década era comum que as fábricas buscassem profissionais qualificados em outros estados e até países.
O forte esforço de divulgação daquela pesquisa foi determinante para que instituições de ensino percebessem a necessidade de ampliar e ajustar a oferta, com mais vagas em cursos correlatos às atividades do PIM e melhorando as grades curriculares de cursos já existentes. Nos níveis técnico e superior, para as atividades-fim e meio.
Feito o ajuste, o problema da oferta deixou de ser a quantidade. No Amazonas de hoje há 93 mil matriculados em cursos técnicos, sendo 15 mil em áreas correlatas às demandas do PIM. Em ensino superior, há 112 estudantes, sendo 66 mil em áreas correlatas às demandas industriais – 13 mil em engenharias, 9 mil em tecnologias de informação e comunicação e 44 mil em negócios.
Durante a construção dessa oferta, a empregabilidade do PIM estagnou em torno do estoque de 90 mil cargos ocupados, somente retomando o crescimento após a pandemia, por volta de agosto de 2020, quando iniciou a trajetória para os atuais 120 mil empregados. Era o crescimento econômico brasileiro sendo postergado por ramerrames e atabalhoamentos, e o ambiente de negócios do Amazonas sendo contido por oportunismos e recalcitrâncias.
Agora, ao passo que se firmam as melhorias nos âmbitos nacional e local, precisa ser resolvido o descasamento entre os cursos e o novo perfil do PIM quanto suas tecnologias de processos e portfólio de produtos. É evidente, por exemplo, a demanda geral por habilitados em automação. Há também as necessidades de setores que se destacaram mais recentemente, como o químico, gráfico e termoplástico. Temas ligados às peculiaridades regionais, como naval e gestão ambiental recebem especial atenção.
Ou a chave pode estar na menção à demanda por conhecimentos específicos. Tecnologias multiplicam a diversidade e flexibilidade dos meios de produção e ensino, possibilitam e requerem formação de habilidades em cursos de menor duração, como os técnicos, tecnólogos e atualização. E em metodologias experenciais, mão na massa.
O encontro reduzirá a assimetria de informações entre as partes, fonte de custo e insegurança nos processos de recrutamento e promoção - diálogo presencial facilita os planos de ação. Também permitirá tratar os recursos humanos do Amazonas em visão estratégica, como fator de competitividade, e aproximar o futuro em que os investimentos são atraídos pelos incentivos fiscais, boas estruturas, disponibilidade de matérias-primas e elevado contingente de profissionais em máxima habilitação, criatividade, disciplina e pensamento crítico.
Os horizontes a serem construídos abrirão caminhos em que jovens serão solucionadores de problemas, proponentes de projetos, formadores das organizações, idealizadores das soluções. Para a indústria, para o Amazonas.
O convite está feito.